#1 - O tempo todo almejando apagar as redes sociais e sumir
Tenho refletido esse sentimento de “queria me afastar das redes sociais” ou “da internet”
Tenho refletido esse sentimento de “queria me afastar das redes sociais” ou “da internet”.
Aparentemente a gente tem vívido em dois padrões funcionamento: ou completamente tragados pelas redes sociais, ou completamente afastados do mundo virtual.
Como Millenium a gente viu um mundo onde a internet não era o óbvio. Nem todas as casas tinham computadores, ainda era caro ter internet “banda larga”, tinha que usar internet discada de madrugada para pagar um pulso só (ou no fim de semana depois das 14h), era quase inimaginável que tão rapidamente teríamos acesso à internet na palma da mão.
A gente tinha que “entrar na internet” e pela lógica também tínhamos que “sair da internet”. Fechar o MSN (ou o ICQ), desconectar o roteador, desligar o computador e voltar para a vida offline.
E por conta disso parece que existe uma busca incessante em resgatar o “offline” em um mundo em que estamos 24h conectados. Somos saudosistas em também poder não estar online como já vivenciamos antes, mas a internet está sempre nos chamando de volta como uma grande imã em que somos o metal.
A internet também trouxe para nós sintomas comum à sua era.
Como é o sentimento de que sempre há algo que precisa ser visto na internet. Não que PODERIA, mas que PRECISA. Um sensação de obrigação ou de possível perda de algo (condição também conhecido como “FOMO” ou “fear of missing out” ou “medo de perder algo”). E se pode perder algo o tempo todo, afinal tudo acontece o tempo todo em todo lugar (como diria o título do famoso filme), então em qual momento podemos nos desconectar?
Entretanto toda a época antes da internet estávamos “perdendo” tudo isso. As notícias, as fofocas, as trocas com o outro. Elas eram lentas. Precisávamos esperar o jornal de papel, a revista mensal, a carta escrita à mão. A ansiedade da espera não era agonizante, mas apenas parte de um processo conhecido. A vida já era assim há gerações.
Mesmo no começo da internet o ritmo era lento, precisávamos esperar atualizações nos blogs dos assuntos que nos interessavam, porque talvez o dono daquele blog ainda não tinha “entrado na internet” para postar.
De repente as redes sociais trouxeram urgência. As informações cada vezes mais rápidas precisam ser consumidas também na mesma velocidade. Para estar internet, então precisa entrar no ritmo. Pegar o bonde andando. Redes mais lentas como era o Orkut perdeu seu reinado para o Facebook, que perdeu seu reinado para os stories em tempo real do Instagram ou as atualizações infindáveis do Twitter.
Daria o chute que as gerações que estão crescendo na internet ou talvez os filhos dessas geração terão maior habilidade para lidar com a relação com a internet. Mas para quem cresceu num mundo ainda sem a internet que conhemos hoje, então para nós ainda é uma constante batalha de aprender solitariamente a se adaptar há algo que ninguém nos disse como fazer.
Queremos o que já tivemos antes e conhecemos, e reconhecemos que era melhor.
É de tal maneira, que, enquanto escrevo esse texto eu fico me perguntando se eu pareço estar me enrolando demais para chegar numa conclusão e isso não torna desinteressante para o leitor, afinal a internet pede respostas rápidas.
Se você chegou até aqui, então obrigada! (sério!)
A gente entende em psicologia que muitas vezes são nos excessos que moram as grandes questões adoecedoras.
Tudo bem beber de vez em quando, mas beber em excesso vira uma questão. Tudo bem beber água, mas até água em excesso pode ser um problema. Tudo bem sentir raiva, ela tem seu lado impulsionadora, mas raiva em excesso pode ser destrutiva. É aquela velha história de que a diferença entre o remédio e o veneno é a sua dose.
Na mesma lógica, tudo bem usar a internet, mas a internet em excesso…
Chegamos em um momento que às vezes é impossível se abster completamente da internet. Na minha realidade em que uso as redes como parte da divulgação do meu trabalho como psicóloga, eu diria que é impossível eu abdicar completamente das redes sociais (quem dirá da internet). E essa é a realidade de muitas pessoas que vivem da internet de alguma forma.
Ah, mas um adendo: também não quero demonizar as redes sociais como algo que precisa se extinto. É gostoso poder ver uma boa foto no Instagram, ver um amigo compartilhar algo importante nos stories, ler um bom fio de fofoca no Twitter. Não sejamos hipócritas!
A questão é o exagero e o que pode mudar é apenas a forma como a gente se relaciona (principalmente) com as redes sociais. Ninguém nunca nos ensinou a nos relacionar com as redes sociais, apenas nos deixamos ser levados pela maré. Então estamos como crianças descobrindo o mundo pela primeira vez, errando enquanto tentamos acertar.
Então minha questão é “como posso equilibrar os momentos online e os offline?”
Honestamente, e eu não quero te decepcionar, mas eu ainda não tenho uma resposta completa. Provavelmente parte dela, porque ainda é algo que vamos debater por longos anos, afinal a internet e toda as afetações psicológicas e comportamentais que ela gerou é algo muito maior e mais complexa.
Mas o fato é: “offline” precisa voltar a fazer parte do cotidiano da vida.
A vida ainda tá acontecendo no offline e a gente precisa se autorizar a viver o offline.
Qual é a questão sobre “não saber de tudo”? A gente nunca vai saber de tudo. Não teremos tempo de vida o bastante para ler todos os livros do mundo, ver todos filmes, conhecer todas as pessoas ou visitar todos os lugares. O “não saber” também faz parte da vida. Então por que precisamos tanto saber o que está nas redes sociais o tempo todo?
Talvez o que se perdeu vai vir de um amigo na roda do bar contando uma notícia ou história que leu numa rede social qualquer. Talvez o que faltou vai vir no offline.
Se você trabalhar com a internet: tudo bem frustrar o algoritmo. O algoritmo não está à favor do usuário, está à favor das big tech e de seus interesses ($$$). Então tudo bem não postar todos os dias, tudo bem não estar nos stories o tempo todo, tudo bem ter um bloqueio criativo. E talvez caia sua visibilidade um bocadinho, mas para além da visibilidade, como está sua saúde mental no meio disso? Obedecer às expectativas de um outro (o algoritmo/as big techs) que não está nem um pouco preocupado sobre o quão nocivo isso pode ser para você?
Não precisamos viver como “eremitas digitais” (mas pode também se quiser) e se isolar completamente das redes sociais, mas sair da dinâmica polarizada: ou completamente nas redes ou totalmente fora das redes. É possível só estabelecer momentos em que o “offline” é a regra.
Provavelmente a maior recomendação seja se afastar de eletrônicos 2h antes de dormir para auxiliar na produção de melatonina e dormir mais gostosinho. Mas pode ser de outra maneira também.
Às vezes gosto de literalmente desinstalar os aplicativos de rede social no fim de semana. Eu já passo a semana inteira vidrada nas minhas redes, então gosto de me concentrar na vida offline durante o fim de semana. Isso é dizer para mim mesma “tudo bem usar as redes sociais com constância durante essa semana, porque no fim de semana vamos nos dar férias”.
Às vezes isso acontece ao longo do dia. Vou usar meu celular até hora x e depois vou deixá-lo longe do meu alcance e focar em outras atividades importantes para mim como ler, desenhar, ver anime, jogar videogame, brincar com os meus gatos. Daí se possível tento só retomar o uso no dia seguinte. Assim posso usar na intensidade que eu quiser em um período e tento ficar offline em outro período (e às vezes eu falho).
Já vi relato de pessoas que tiravam uma semana do mês para ficar completamente offline de rede sociais, apenas com o whatsapp para o contato básico.
A questão é: qual momento pode ser o momento de “desconectar da internet”?
E enquanto digo isso para você leitor, eu digo também para mim mesma. Porque a fala popular de que “falar é fácil” é real.
Não é tarefa fácil e eu também estou aprendendo e criando estratégias, porque para mim virou questão de qualidade de vida. O desconforto de abrir um aplicativo no automático e rolar um feed infinito é um comportamento que tenho tentado abolir: se eu vou abrir o aplicativo, então eu realmente quero fazer quando eu QUERO fazer isso e não por um comportamento automático.
Enfim, no final equilíbrio é tudo, na sabedoria da internet:“um pouco de droga, um pouco de salada”.
Eu ainda sou da geração anterior aos milleniums, do tempo que nem telefone fixo era realidade para todos (só os "ricos" tinham), então, equilibrar o uso — ou não uso — da internet agora é beeemmm desafiador. Ficar sem internet é quase impossível pra mim, faço praticamente tudo através dela. Já com as redes sociais, quero crer que tenho um certo equilíbrio. Desativei as notificações do Instagram. Não tenho tweeter (até fiz, mas achei muito raso os assuntos), nem TikTok e só não deletei o Facebook, porque ainda preciso dele quando preciso patrocinar algum conteúdo (mas tenho um ranço dele que nem sei explicar). Só acesso pontualmente o que quero ou o momento que quero. Não fico rolando feed, vou direto no usuário que quero ver e evito olhar todos os stories (evito, nem sempre consigo). Mas também não sinto essa necessidade louca de saber de tudo — muitos me consideram alienada por não acompanhar todas as tretas e notícias do momento — mas eu me sinto em paz sem saber de tudo. O que eu PRECISO saber, sempre encontra uma forma de chegar até mim.
Agora, que não é tarefa facil, não é mesmo! Mas a gente vai aprendendo.